quinta-feira, 14 de março de 2013

Os Terreiros de Umbanda


O culto e a prática da Umbanda dividem-se em três partes: a física, a mediúnica e a espiritual. Física é o terreiro, mediúnica são os médiuns e espiritual os espíritos e toda força invisível que atua sobre a física e a mediúnica.
No terreiro é onde se praticam os trabalhos espirituais. Como parâmetro vamos descrever o Terreiro do Pai Maneco, que no fim vai ser igual a todos, tendo em vista que os demais podem diferenciar em número de médiuns, tamanho ou Orixá mandante, mas são semelhantes. Dentro da construção física o espaço do nosso terreiro é de forma redonda e é onde se faz as giras e está localizado o Congá. No meio do terreiro tem uma estrela com o ponto do Caboclo Akuan que cobre um buraco onde foram enterradas as armas do Orixá Ogum, sendo a segurança do terreiro e dela é que vem todo o axé da casa. Em volta fica a parte destinada à assistência. Nos fundos tem o roncó e a Casa dos Exus, sobre os quais falarei adiante. Quando se entra no terreiro no espaço destinado aos trabalhos, é respeitoso ir na estrela da segurança e batendo o dedo indicador sobre ele, leva-lo à testa, na cabeça e na nuca em respeito a segurança da esquerda, e cumprimentar mesmo mentalmente, saudando a Umbanda, o pai-de-cabeça e sua segurança da esquerda. É um ato que faz parte do ritual, simples mas quando feito com amor não deixa de ser uma demonstração de respeito com a Umbanda ou com o Orixá que se está cumprimentando. Defronte ao Congá, o procedimento é o mesmo.

PARTE ESPIRITUAL
A Constituição Brasileira garante a liberdade do culto das religiões. Vejam como a liberdade é difícil, pois uma Constituição tem que garanti-la, quando deveria ser o direito de qualquer cidadão sem a necessidade de estar sob a tutela de regras inseridas em Leis. Com a constituição em baixo do braço, a criação dos Terreiros de Umbanda fica subordinada a pequena esfera burocrática e a vontade de um grupo e uma mãe ou pai-de-santo. Eles variam nos rituais, mas um dos princípios já consagrado na Umbanda é que os terreiros têm a proteção de um dos sete Orixás e seus trabalhos sempre são abertos com a proteção da linha. No Terreiro do Pai Maneco, o chefe espiritual é o Caboclo Akuan, da linha de Ogum, à qual eu pertenço. Por isso que os trabalhos são abertos com a chamada desta linha, para depois ser chamada outra. No nosso próprio Terreiro, outros três dirigentes comandam outras giras, todos criados em nossa casa, mas com Orixás diferentes. A proteção da Quimbanda fica por conta do Exu Tranca Ruas das Almas, por ser o meu protetor na esquerda.

ENGOMA
Engoma é o conjunto de instrumentos que formam a música do terreiro. Tradicionalmente a base de toda engoma são os atabaques. Eles são considerados sagrados e são cruzados pelas entidades. Eles têm nome: Rum, Rumpi e Lê, o maior, o médio e o pequeno. No início a Umbanda não usava a música, só as palmas que mantinham o ritmo dos pontos cantados. Isso explica-se porque a Umbanda era proibida e o som na noite indicava os locais dos trabalhos que eram feitos escondidos. Até hoje no Terreiro N.S. da Piedade, o primeiro do Brasil e criado pelo sr. Zélio de Moraes, não existe o hábito dos atabaques. Eles foram trazidos para a Umbanda do Candomblé. Eu entendo a música como um elemento de ligação da corrente, uma harmonia vocal e um bem estar que se transforma em alegria. Por isso a engoma em nosso terreiro foi enriquecida, além dos atabaques, com outros instrumentos como o violão, o bumbo, o pandeiro, o chocalho, agogô, flauta, a cabaça e outros, inclusive um piano que é tocado em ocasiões especiais. Vamos introduzir também a cuíca para que intermediando os pontos tradicionais da Umbanda, seja cantado o samba , a nossa música brasileira dentro da religião também brasileira. Acho fundamental a qualidade da engoma e do bom gosto na escolha das músicas cantadas, inclusive músicas populares.


PONTOS CANTADOS
A Umbanda é regida pela música. Todo seu ritual é por ela comandado, o que se chama ponto cantado. Quando a corrente entra no terreiro já o faz sob o Hino da Umbanda, a defumação, a abertura dos trabalhos, o chamado dos espíritos para arriarem e subirem. Chamamos pontos de chamada ou linha. Ponto de linha é quando se faz o chamado dos espíritos em geral dentro de suas respectivas linhas. Quando se canta o ponto de linha, qualquer orixá da linha chamada pode arriar. Para eles deixarem o terreiro, canta-se o ponto de subida, é quando, em um terreiro organizado, todos devem se despedir sem a necessidade da hierarquia ordenar verbalmente. O ponto individual é para chamar um determinado espírito. Normalmente é ele quem deixa a letra e música que funciona como um mantra. Vou dar um exemplo: o José vai andando na rua quando alguém o chama pelo nome. Ele para em atendimento ao som de seu nome. Mas se ao invés de José for dito Pedro, ele continua seu caminho por saber que o assunto não é com ele. Com o espírito acontece o mesmo. A entidade está lá na Aruanda ou em algum lugar, quando houve que está sendo cantando em algum Terreiro o seu ponto individual, imediatamente ele atende e arria. O ponto cantado é muito respeitado pelas entidades e um não incorpora no ponto do outro. A não ser que não seja orixá e sim um obssessor.


TRONQUEIRA
Todo terreiro tem em sua entrada uma pequena casinha onde está assentada a segurança do Exu Tranca Ruas. Chamamos de Tronqueira. Dentro estão as armas do Exu, como a segurança do centro do terreiro, e permanece sempre alimentado com velas, bebidas, charutos e às vezes comidas. Sua função é cuidar da segurança externa do terreiro, por isso deve-se cumprimentá-la antes de entrar no terreiro.

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